A defesa do ex-ministro Sérgio Moro (Justiça e Segurança Pública) pediu ao ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), que libere a íntegra do depoimento de mais de oito horas que o ex-juiz prestou na Superintendência da Polícia Federal, no último sábado, 2.
“Considerando que a imprensa, no exercício do seu legítimo e democrático papel de informar a sociedade, vem divulgando trechos isolados do depoimento prestado pelo requerente em data de 02 de maio de 2020, esta defesa, com intuito de evitar interpretações dissociadas de todo o contexto das declarações e garantindo o direito constitucional de informação integral dos fatos relevantes – todos eles de interesse público – objeto do presente Inquérito, não se opõe à publicidade dos atos praticados nestes autos, inclusive no tocante ao teor integral do depoimento prestado pelo requerente”, afirma a defesa.
O PEDIDO DE MORO
A petição foi assinada pelo advogado Rodrigo Sanchez Rios, defensor de Moro no inquérito que apura as acusações do ex-juiz da Lava Jato de ‘interferências políticas’ do presidente Jair Bolsonaro no comando da Polícia Federal.
Mais cedo, o Estado revelou que o depoimento do ex-ministro perante à PF citava o nome de três ministros que seriam testemunhas de ameaças do ex-presidente contra Moro. Augusto Heleno (GSI), Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) estiveram presentes em reunião gravada pelo Planalto em que Bolsonaro ameaçou demitir Moro caso ele não trocasse a chefia da Polícia Federal. O encontro foi realizado no dia 23 de abril.
O assunto também teria sido abordado em outra reunião, no dia anterior (22 de abril), com outros ministro de Bolsonaro.
O procurador-geral da República, Augusto Aras, solicitou que Heleno, Braga Netto e Eduardo Ramos fossem ouvidos no inquérito e que seja entregue a gravação da reunião mencionada por Moro. A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) também pode ser ouvida. A parlamentar trocou mensagens com Moro no qual pedia ao ex-ministro que aceitasse a mudança de comando na PF. Em troca, ela influenciaria Bolsonaro a indicá-lo ao STF na vaga que abrirá em novembro.
O PGR também quer os delegados o ex-diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, o ex-superintendente da PF no Rio, Ricardo Saadi, o superintendente no Amazonas, Alexandre Saraiva, o ex-chefe da PF em Minas Rodrigo Teixeira e o recém-indicado diretor-executivo da PF e ex-superintendente da PF no Rio, Carlos Henrique Oliveira. Os cinco primeiros tiveram envolvimento com crise entre Moro e Bolsonaro no ano passado.
O caso também foi citado por Moro em depoimento à Polícia Federal, no sábado.
Oliveira foi convidado para assumir o número dois da PF pelo novo diretor da corporação, Rolando Alexandre de Souza, em uma das primeiras ações do novo diretor-geral após ser empossado cerca de 20 minutos depois de ter a nomeação publicada no Diário Oficial da União. A mudança levou à uma troca de comando na PF do Rio, vista com interesse por Bolsonaro e seus filhos.
Do ESTADÃO