Pressão no ambiente de trabalho e a piora na saúde mental foram os principais motivos para crescimento dos casos
A pressão no ambiente de trabalho e a piora na saúde mental aumentaram os afastamentos por depressão e ansiedade no Brasil. Segundo o Ministério da Previdência Social, foram 145 mil brasileiros afastados por questões mentais em 2023, número 45% maior do que no último período registrado.
Os dados refletem o impacto da saúde mental no ambiente de trabalho, comprometendo o desempenho e, em caso de afastamentos, impedindo o trabalhador de realizar as funções. Foi o que aconteceu com a bancária Vanessa Misiti, que precisou enfrentar as novas condições de trabalho presencial após o nascimento do filho e teve um burnout, síndrome de esgotamento profissional.
“Minha pressão parece que caiu, aí comecei a respirar fundo e começou a gelar a mão, gelar a mão, gelar a mão, aí comecei a ver turvo e uma amiga minha que tava do lado falou: ‘O que você tem, tá passando mal?’ e eu falei assim: ‘Não tô bem’ e comecei a ter um zumbido no ouvido”, diz Vanessa ao relembrar a crise que teve antes de ser afastada.
Casos como o de Vanessa chamam a atenção para o papel das empresas na observação de situações que podem desencadear o burnout. A síndrome foi incluída na lista de doenças relacionadas ao trabalho, junto com outras 165. Nos consultórios, atendimentos dispararam após a pandemia de Covid-19 e algumas reclamações se repetem.
A psiquiatra Alexandrina Meleiro aponta que a volta ao presencial fez com que alguns incômodos se acumulassem e piorassem a saúde mental. “Houve mudanças no nível de cobrança e, muitas vezes, sem as condições necessárias para que realize com tranquilidade o trabalho. Além de voltar, claro, o trânsito, de enfrentar determinadas pessoas com quem eu não se dava tão bem e agora tem que, de um jeito ou de outro, fazer como se tivesse tudo ok”, pontua.
O papel das empresas em dar apoio psicológico aos funcionários é essencial. A redatora Kalyne Vieira, que foi afastada por dois meses com depressão, conta que o suporte foi fundamental. “Hoje em dia o valor das pessoas está muito ligado à produtividade. Parece que se você não está sendo produtivo, não tem valor, conta. Sofri durante o afastamento porque não aceitava parar, mesmo recebendo suporte da empresa”, diz.
POR OLÍVIA FREITAS – JORNAL DA BAND