Dados divulgados pela SSP-PI apontam que maioria das vítimas de crime eram jovens e negros.
O Brasil é um dos países mais perigosos para a comunidade LGBTQIAPN+, figurando entre as nações mais homofóbicas e transfóbicas do mundo. Em 2023, foram registradas 257 mortes violentas de pessoas LGBT no país. No Piauí, a situação não é diferente. Segundo dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Piauí (SSP-PI) nesta terça-feira (20), o estado registrou 991 casos de crimes contra membros da comunidade LGBTQIAPN+ em 2023, além de 10 mortes violentas.
O aumento dos casos de transfobia no Piauí é preocupante. Exemplo disso é o assassinato da cabeleireira Aryadina Monteiro, de 23 anos, ocorrido na última segunda-feira (22) no bairro São Joaquim, zona Norte de Teresina.
O Boletim de Dados de Violência Contra a Pessoa LGBTQIAPN+, em sua segunda edição, revela que, no último ano, 68 crimes de discriminação ligados à identidade de gênero ou orientação sexual foram denunciados no Piauí. Dos 991 casos notificados, a maioria das vítimas era jovem: 43% tinham entre 20 e 29 anos, muitos deles estudantes, enquanto 29% eram adultos com idades entre 30 e 39 anos. Esses números podem, inclusive, estar subnotificados, considerando que muitos casos não chegam a ser registrados.
O recorte racial também é um fator importante na análise dos dados. Entre as vítimas, 68,29% eram negras, o que demonstra a interseção entre violência contra LGBTQIAPN+ e racismo.
Crimes patrimoniais e ameaças predominam
Os crimes de natureza financeira, como estelionato, furto e roubo, representaram mais de 40% das ocorrências. Já as ameaças correspondiam a 16,3% dos registros, seguidas por estelionato (15,6%), furto (14,4%) e roubo (11,4%). Esses dados indicam que a maioria dos crimes contra a comunidade LGBTQIAPN+ no Piauí é de natureza patrimonial, seguido por ameaças e crimes contra a honra.
Violência letal
A violência letal intencional (MVI) também se destacou nos registros, com 40% das mortes violentas ocorrendo entre vítimas de 40 a 49 anos. A maioria dessas vítimas eram pessoas negras (90%), e os crimes foram predominantemente cometidos com armas de fogo, em residências, estabelecimentos comerciais ou vias públicas.
Canais de denúncia
Um dos principais canais de apoio e denúncia é o Disque Cidadania LGBTQIA+, que atende vítimas de transfobia no Piauí, oferecendo suporte e acolhimento. O serviço é mantido pela Secretaria de Assistência Social, Trabalho e Direitos Humanos (Sasc), por meio do Centro de Referência LGBTQIA+ Raimundo Pereira, em parceria com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-PI). Denúncias podem ser feitas pelo telefone (86) 3213-7086.