Após um acordo, as forças mercenárias que marchavam rumo a Moscou voltaram a sua base; o líder do grupo, Yevgeny Prigozhin, poderá ir para Belarus
As tropas do grupo paramilitar Wagner se retiraram da Rússia neste sábado (24) por ordem de seu líder, Yevgeny Prigozhin, que anunciou inesperadamente a retirada após ter desafiado a autoridade de Vladimir Putin, enquanto Kiev reivindicava avanços no leste da Ucrânia.
Prigozhin, que havia prometido “libertar o povo russo” ao liderar suas tropas para Moscou, finalmente recuou, para evitar derramar “sangue russo”, em suas palavras.
“Nossas colunas dão a volta, e voltamos aos nossos acampamentos”, declarou.
Desde o anúncio da rebelião no sudoeste da Rússia, nesta sexta-feira (23), os homens do Wagner chegaram a três regiões russas (Rostov, Voronej e Lipetsk) e permaneceram a 400 km da capital.
Aclamados por dezenas de moradores de Rostov com gritos de “Wagner, Wagner!”, os combatentes começaram a deixar a área na noite deste sábado, segundo repórteres da AFP presentes. Depois da meia-noite (horário local; 18h em Brasília), eles haviam deixado completamente a área.
Conforme o acordo firmado, Prigozhin poderá ir para Belarus e evitar ser processado na Rússia, assim como seus combatentes, levando-se em consideração os “méritos na frente” ucranianos do grupo paramilitar, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
“O principal objetivo era evitar um banho de sangue […] e confrontos com resultados imprevisíveis”, disse Peskov.
O presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, um aliado próximo de Putin e que conhece o próprio Prigozhin há mais de duas décadas, parece ter desempenhado papel importante de mediação. De acordo com Minsk, foi ele quem propôs ao chefe do Wagner impedir o avanço do grupo para a Rússia. “Somos gratos ao presidente de Belarus por esses esforços”, disse o porta-voz do Kremlin.
Retorno progressivo
Prigozhin advertiu na sexta-feira que tinha 25 mil soldados determinados a ir “até o fim” e “destruir tudo” o que estivesse em seu caminho.
“Estamos morrendo pelo povo russo, que deve ser libertado daqueles que bombardeiam a população civil”, disse ele, referindo-se ao papel proeminente dos mercenários nas grandes batalhas na Ucrânia.
Diante de seu maior desafio desde que chegou ao poder, em 1999, o presidente russo, Vladimir Putin, procurou manter o controle. Nas horas anteriores, ele havia condenado a “traição” de Prigozhin e alertado para o risco de uma “guerra civil” em meio ao conflito com a Ucrânia.
Após o anúncio da retirada, começaram a ser suspensas algumas das medidas excepcionais de segurança tomadas na Rússia face ao avanço do Wagner, nomeadamente na região de Lipetsk, ao sul da capital, por onde tinham entrado os paramilitares, e na região russa de Kaluga, cuja capital regional está localizada a 180 km ao sul de Moscou.
“As restrições impostas hoje começam a ser levantadas. Em um futuro próximo, reabriremos o acesso às rodovias da região”, disse o governador regional Igor Artamonov.
‘Prigozhin humilhou Putin’
Em meio à turbulência na Rússia, Kiev lançou manobras ofensivas contra as forças russas na frente oriental e fez mais “avanços em todas as direções”, anunciou o Ministério da Defesa.
Depois de garantir que a Ucrânia agora é a única responsável pela “segurança do flanco oriental da Europa”, o presidente ucraniano, Volodmir Zelensky, mais uma vez exortou o Ocidente a entregar “todas as armas necessárias”, em particular os caças F-16.
Para Zelensky, a tentativa de golpe do grupo Wagner mostra que “a liderança russa não tem controle sobre nada”. “O homem do Kremlin está obviamente muito assustado”, disse ele.
Apesar da retirada do líder do Wagner, o assessor presidencial ucraniano, Mikhailo Podoliak, garantiu no Twitter que “Prigozhin humilhou Putin/o Estado e demonstrou que não há mais monopólio legítimo da violência” na Rússia.
‘Sem impacto’ na ofensiva ucraniana
O Exército russo, por sua vez, anunciou que nas últimas 24 horas repeliu nove ataques no sul e no leste da Ucrânia.
O Kremlin disse que está “fora de questão” que o frustrado motim da milícia Wagner afetaria a ofensiva militar na Ucrânia, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, neste sábado.
A Rússia já alertou as potências ocidentais contra qualquer tentativa de “capturar” a rebelião do Wagner para promover uma agenda antirrussa, dizendo que o motim não a impediria de “alcançar seus objetivos” no conflito na Ucrânia.
“A operação militar especial continua. Nossos militares conseguiram repelir a contra-ofensiva ucraniana”, declarou.
INTERNACIONAL | por AFP