Problema que atinge todas as faixas etárias, mas os jovens formam a maioria dos casos
Aumentou em mais de 300% o número de pessoas que precisam se afastar do trabalho para tratamento psicológico em consequência do vício em jogos digitais e online. Um problema que atinge todas as faixas etárias, mas os jovens formam a maioria dos casos. Os dados são do Ministério da Previdência Social.
“Vai completar 22 anos e sete meses ao mesmo tempo que eu não jogo. Nunca mais joguei”, revela uma das pessoas que foram viciadas em jogo, que não quis se identificar.
Mesmo tanto tempo longe dos jogos, as dívidas continuam. “O carro foi num dia, uma semana depois eu tinha perdido todo o dinheiro do carro. Tudo que tive de oportunidade, eu joguei, não teve jeito: dominó, baralho, caxeta, batidinha, bingo, maquininha, snooker, bilhar, eu jogava valendo”, complementa.
O vício mudou os planos de vida. Sonhos foram adiados. “Eu gostaria de, após aposentar, ir morar no interior, ter uma propriedade, mas ficou tudo de lado.”
Outro viciado, que também não quis ter a identidade revelada, conta que perdeu mais de R$ 1 milhão em 10 meses em jogos. “Uma tia minha vendeu um apartamento na época para quitar as minhas dívidas”, conta.
A especialista em segurança do trabalho, Cinthia Bueno, conta que o vício afeta o rendimento do dependente no trabalho. “Ela perde a sua atenção, diminui a entrega, atrasa a sua chegada ao trabalho. Há um aumento do que chamamos de absenteísmo, a ausência do trabalho”, revela.
Com o acesso cada vez mais na palma das mãos, o número de empregados afastados do trabalho devido ao vício em jogos aumentou 360% entre 2021 e 2023, segundo o Ministério da Previdência Social.
“Existe o amparo para as pessoas viciadas nos jogos, não é como anteriormente as pessoas eram recriminadas”, explica Cinthia.
Os dependentes ouvidos pelo SBT Brasil fazem parte da Jogadores Anônimos. Uma irmandade que funciona em quase todo o Brasil e ajuda dependentes a abandonarem o jogo.
“Jogadores Anônimos é uma terapia de espelho, onde um fala para o outro como está conseguindo viver melhor, tendo uma vida longe do jogo, longe da primeira aposta. Pode vir jogando, o único requisito para pertencer à irmandade é o desejo de parar de jogar”, explica um dos integrantes.
A Jogadores Anônimos oferece o apoio que o viciado não encontra em casa nem no trabalho. Os encontros presenciais acontecem duas vezes por semana e as reuniões online são diárias.
“Eu entendi que sou doente. Antes, quando eu tava com vontade, não tinha pra quem ligar. Agora eu tenho, só depende de mim”, relata uma mulher que faz parte do grupo e não quis ter o nome revelado.
Mesmo com pouco tempo após buscar ajuda, ela já sente a diferença. “Faz seis anos que eu não sento na mesa para almoçar com a minha família. Eu faço almoço, corro para o quarto, finjo que vou ver televisão, que eu não tô com fome. No tempo que eles estavam almoçando, eu ficava jogando. Domingo, eu consegui fazer um almoço, sentar, e eu sentei. Aí a minha neta de 14 anos me aplaudiu, então eu tô no caminho certo”, complementa.
Por Gudryan Neufert – sbtnews