Relator diz que governo tenta intimidar os trabalhos da comissão e ‘não tem sequer uma linha de defesa’.
Em entrevista exclusiva à CNN na quinta-feira (13), o relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pandemia, senador Renan Calheiros (MDB-AL), disse que “nada vai, sinceramente, intimidar a CPI” com relação ao que chamou de “busca pela verdade” a respeito do enfrentamento da pandemia de Covid-19.
Segundo Renan, o governo Jair Bolsonaro (sem partido) tenta constranger a comissão na realização de seus trabalhos, mas a CPI “está indo muito bem”.
“A cada depoimento que nós colhemos, nós vamos tendo a revelação dos fatos que estavam previstos no roteiro da apuração. Cada depoente tem colaborado mais que o depoente do dia anterior. Isso significa que a CPI está indo muito bem e que nós não estamos aceitando brigas políticas e obstruções”, afirmou o senador.
Renan Calheiros aproveitou para fazer novas críticas à maneira como o governo federal tem conduzido a crise sanitária. Acusou o governo de ter agido com “negacionismo” e disse que o presidente Bolsonaro “enxovalhava as vacinas”. “Nós vamos apurar, haja o que houver, se houve genocídio e, se houve genocídio, quem é o responsável por ele”.
O relator disse que na sessão de quarta-feira (12) coube ao senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) cumprir o papel de “atacar a CPI e de atacar o relator”. Na ocasião, Flávio chamou Renan de “vagabundo”, que devolveu o xingamento.
Para o senador pelo Alagoas, a declaração de Flávio é reflexo da “cultura do miliciano, que acha que não comete crime” e que “todo mundo que está diante dele, o enfrentando, é um vagabundo”.
Nesta quinta-feira, o presidente Jair Bolsonaro repetiu o que disse o senador Flavio Bolsonaro.
O presidente, que estava em evento no estado de Alagoas, por onde Renan é senador, não citou o relator da CPI nominalmente, mas disse que “se Jesus teve um traidor, temos um vagabundo inquirindo pessoas”. “É um crime o que está acontecendo nessa CPI”, pontuou.
Bolsonaro estava acompanhado do presidente da Câmara e rival político de Renan, Arthur Lira (PP-AL). No evento, o presidente também fez referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem chamou de “ladrão de nove dedos”.
Depoimento de Murillo, da Pfizer, à CPI da Pandemia
Em sua participação na CPI da Pandemia, o presidente da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, disse que a farmacêutica americana fez três ofertas de venda de sua vacina contra a Covid-19 ao governo brasileiro ainda em agosto de 2020.
Segundo Murillo, houve “reuniões iniciais exploratórias” nos meses de maio e de junho do ano passado. Em 14 de agosto, a Pfizer fez sua primeira oferta, em contratos de 30 milhões ou de 70 milhões de doses, e foi ignorada pelo governo.
Outras duas propostas idênticas se seguiram, em 18 de agosto e em 26 do mesmo mês, ambas também ignoradas. No caso da última proposta, 1,5 milhão de doses poderiam ter sido entregues ainda em 2020 e também “um pouco mais de quantidade para o primeiro trimestre de 2021”, disse o executivo.
Para Renan Calheiros, o depoimento de Carlos Murillo comprovou que o governo federal rejeitou a compra de 70 milhões de doses.
Participação de Carlos Bolsonaro em reunião com a Pfizer
Carlos Murillo também afirmou que quando o governo federal finalmente manifestou interesse em adquirir as vacinas, em novembro de 2020, houve uma reunião no Palácio do Planalto com duas representantes da Pfizer, na qual estiveram presentes o assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, Filipe G. Martins, o então secretário especial de Comunicação da Presidência, Fabio Wajngarten, e o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos), filho do presidente Jair Bolsonaro.
Em seu depoimento à CPI, na quarta-feira, Wajngarten disse que nunca teve “qualquer relação” com o filho do presidente.
À CNN, Renan Calheiros negou a intenção de convocar Carlos Bolsonaro para depor à CPI. Para ele, já foi possível “constatar que havia uma consultoria paralela, que definia políticas públicas, e que contava com a participação de pessoas que sequer eram do governo federal”.
Gregory Prudenciano e Rudá Moreira, da CNN, em São Paulo e em Brasília