Conheça a história do jogador que é o destaque do Cori-Sabbá na Série B do Piauí

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O guadalupense Emerson Júnior ficou órfão após morte trágica dos pais, quase desistiu do futebol e agora virou artilheiro.

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O relógio marcava perto das 10 horas da noite. Cansado, Emerson colocou o smartphone ao lado da cama, encostou a cabeça no travesseiro, ajeitou o lençol e se preparou para dormir. De repente, o telefone começou a tocar – e não parou mais.

“Meus amigos começaram a me mandar mensagem perguntando se eu estava sabendo da notícia de um acidente que teve em Guadalupe. Só que eles não falaram que eram meus pais. Eles só estavam fazendo isso porque não estavam com coragem de dizer que meus pais tinham falecido. Aí minha irmã me mandou um áudio chorando falando que meu pai e minha mãe tinham falecido” relembra.

Foi assim, deitado numa cama do alojamento das categorias de base do Sport, em Recife, que, aos 19 anos, Emerson Junior Rocha dos Santos, o grande destaque do Cori-Sabbá na Série B do Campeonato Piauiense, soube da morte dos pais, o pedreiro Janijunior Paes Landim dos Santos e a dona de casa Joseli Rocha dos Santos.

Era um domingo, dia 10 de julho de 2016, e o garoto estava a mais de 1.000 quilômetros de casa, na pequena Guadalupe, cidadezinha de pouco mais de 10 mil habitantes localizada no interior do Piauí. Na capital pernambucana, ele tentava, pela segunda vez, realizar o sonho – que era dele e dos pais – de se tornar jogador de futebol.

– No domingo, quando deu umas 18h, eu estava tentando ligar para eles, mas não estava conseguindo. Não estava chamando o celular. Eu não sabia para onde eles estavam. Estavam minha mãe e meu pai em uma moto. Aí um motorista bêbado atropelou minha mãe e meu pai. Meu pai caiu em cima e minha mãe caiu embaixo, olhando para o meu pai. Eles morreram na mesma hora – conta Emerson.

O que aconteceu em seguida você pode imaginar: Emerson deixou Recife, voltou para a cidade natal, se afundou numa tristeza que parecia não ter fim e chegou até mesmo a pensar em largar o futebol. A partida precoce do pai, de 44 anos, e da mãe, de 43 anos, quase abreviou a carreira de um jogador que hoje brilha na segunda divisão do futebol piauiense. Mas não se engane: essa é só uma parte da história do volante do Cori-Sabbá que já marcou quatro gols em cinco jogos e luta pela artilharia da Série B, que hoje pertence ao meia Paulinho Mossoró, do Oeirense, já fora da disputa do estadual.

Pés descalços, gols e oportunidades

Emerson começou a jogar futebol em Guadalupe. Jogava descalço em campos de terra da cidade natal e de municípios vizinhos. Nessa época, era atacante – daí vem a facilidade de marcar gols que o meio-campo do Cori-Sabbá vem demonstrando na Série B. Demorou pouco para chamar atenção de olheiros. A primeira grande chance veio na Escolinha Atletas do Futuro, tradicional em Floriano e região.

– Desde pequeno que eu jogava de atacante. Quando eu fui jogar na escolinha, o professor me botou de volante e agora eu sou volante – rememora o jovem de 22 anos.

O responsável pela mudança foi Tony Ferreira, famoso por garimpar e lapidar talentos na região de Floriano. A evolução foi tamanha que Emerson foi parar no Sport, dono de 42 títulos estaduais em Pernambuco. Foram dois meses de muitos treinos, mas nenhuma partida. Depois disso, ainda rodou por Juazeiro, da Bahia, e Cabofriense, do Rio de Janeiro, até voltar para o gigante pernambucano.

– Quando eu viajei, foi o meu pai quem me acordou e fez o café da manhã. A van chegou e eu abracei meu pai. Minha mãe ouviu o carro chegando, saiu correndo do banheiro e veio falar comigo. Minha mãe e meu pai sempre dizendo que ia dar certo, que eu ia realizar meu sonho e o sonho deles. O sonho deles era me ver jogando no profissional.

Foi a última vez que Emerson viu os pais vivos. Poucos dias depois, ele e os sete irmãos (Amanda, Estefânia, Janaina, Kananda, Michelly, Caique e Sabrina) velaram e enterraram Seu Janijunior e Dona Joseli.

– Meu pai era pedreiro. Ele sempre trabalhava fora. Ele morava no mundo. Não ficava muito em casa. Só ficava em casa nas férias. Meu pai conheceu minha mãe e eles começaram a morar junto lá em Guadalupe. Eles moravam juntos e faleceram juntos.

Os anjos de Emerson

Três meses depois da morte dos pais, Emerson conheceu Dhionaria. Em pouco tempo, os dois já estavam namorando. O namoro virou casamento e a família cresceu: há um ano e três meses, nasceram os gêmeos Bernardo e Benjamin.

– Hoje meu pai e minha mãe estão do lado de Deus lá em cima e Deus me enviou esses dois anjos, que são os meus dois filhos, o Bernardo e o Benjamin.

A chegada dos pequenos deu um novo gás a Emerson. E as mudanças – para melhor! – prosseguiram. Há alguns meses, Anderson Kamar, presidente e atacante do Cori-Sabbá, que conheceu o garoto quando ele ainda estava na Escolinha Atletas do Futuro, fez um convite tentador.

– O Kamar conversou comigo e falou que queria contar comigo no Cori-Sabbá. Aí eu falei que vinha ajudá-lo e também me ajudar, porque eu estava precisando, já que estava sem clube – relata.


A parceria não poderia ter dado mais certo. Em cinco jogos na Série B, Emerson já marcou quatro gols. O último deles no primeiro jogo da semifinal, o empate em 2 a 2 contra o Timon, em Floriano, com direito à presença ilustre da esposa e dos filhos nas arquibancadas do Estádio Tibério Nunes.

Mas a companhia de Dhionaria, Bernardo e Benjamin tem sido coisa rara para Emerson nos últimos meses. Desde que assinou com o Cori, o meio-campo se mudou para Floriano e mora em um apartamento alugado pelo clube. Já a mulher e os filhos permanecem em Guadalupe, onde dividem a casa com um dos sete irmãos de Emerson.

O Cori-Sabbá de Emerson acabou eliminado na Série B do Piauiense nesta segunda, derrotado nas semifinais pelo Timon. Mas a vida segue. Afinal, desistir não é com ele.

– Eu passei isso tudo na minha vida para chegar onde eu estou hoje e nunca desisti porque era os sonhos dos meus pais e meu sonho ser um jogador profissional. Hoje estou muito feliz por ter conseguido. Mais isso aqui é só o começo. Com fé em Deus, vai ter mais coisas boas pela frente. Espero chegar em um time maior e que eu possa ganhar muito dinheiro para poder melhorar a minha situação e para ajudar meus irmãos, minha mulher, meus filhos e a família da minha mulher.

Fonte: GloboEsportePiauí

Gleison Fernandes
Gleison Fernandeshttps://portalcidadeluz.com.br
Editor Chefe do Portal Cidade Luz

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