Denúncias apontam conluio político e uso da Justiça para anular concursos públicos em municípios do Piauí, enquanto aprovados enfrentam incertezas e suspensão prolongada de seus direitos
Os concursos públicos realizados nos municípios de Colônia do Gurguéia e Manoel Emídio, no sul do Piauí, transformaram-se em um dos temas mais delicados do cenário político regional. Denúncias de manipulação, favorecimento eleitoral e uso da Justiça como instrumento político levantaram suspeitas de irregularidades que agora são investigadas pelo Ministério Público do Estado do Piauí (MPPI).
De acordo com despacho emitido pela Promotoria de Justiça de Manoel Emídio, uma manifestação anônima relatou possível conluio entre a prefeita de Colônia do Gurguéia, Lisiane Franco Rocha Araújo, e o prefeito de Manoel Emídio, Orlando Almeida de Araújo, para inviabilizar os concursos realizados em seus municípios. A denúncia aponta que ambos, pertencentes à mesma base política e cunhados, estariam articulando ações jurídicas com apoio de terceiros para anular os certames.

O documento do MPPI destaca que, antes mesmo de assumirem seus mandatos, os gestores teriam oferecido apoio jurídico a denunciantes dos concursos. O advogado Diogo Josennis, responsável pelo registro das candidaturas de ambos os prefeitos, é citado como o mesmo que atua contra os concursados, o que reforça suspeitas de interesses políticos por trás das ações. Além disso, há relatos de que os municípios mantêm elevado número de contratados sem concurso ou seletivo, prática que caracterizaria apadrinhamento político.
No caso de Colônia do Gurguéia, a suspensão do concurso aconteceu após ação movida por Francisco Eduardo Gomes de Morais Moura, apontado por moradores como um “laranja” a serviço de interesses da gestão. Em Manoel Emídio, apesar de uma decisão inicial favorável aos concursados, o processo segue em grau de recurso, mantendo aprovados afastados de suas funções há mais de um ano.
Segundo o Ministério Público, os fatos narrados podem configurar violação aos princípios constitucionais da legalidade, moralidade, impessoalidade e eficiência (art. 37 da Constituição Federal), além de indícios de improbidade administrativa e até de fraude a caráter competitivo de seleção pública.
Enquanto o impasse judicial persiste, famílias dos aprovados aguardam o desfecho no Tribunal de Justiça do Piauí. Para eles, a situação representa não apenas incerteza profissional, mas também um duro embate entre mérito, política e justiça no sertão piauiense.
Redação B1







