Por Gleison Fernandes – Jornalismo da UCA.
O cenário político de Marcos Parente, município do sul do Piauí, permanece sob forte instabilidade institucional após as eleições municipais de 2024. Encerrado o pleito, os principais resultados passaram a ser questionados judicialmente. O prefeito reeleito Gedison Alves Rodrigues (PSD) e o vice-prefeito Maurício Moreira (PP) enfrentam uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), enquanto a vereadora eleita Ulga Freitas da Cunha (PSD) teve seu diploma cassado em decisão unânime do Tribunal Regional Eleitoral do Piauí (TRE-PI), proferida no dia 13 de maio de 2025.

Disputa acirrada e judicialização do resultado
Gedison Alves foi reeleito com uma diferença de apenas 15 votos sobre o candidato da oposição, Ricardo Martins (PT), resultado que acirrou ainda mais a polarização política local. A estreita margem de vitória somada a denúncias apresentadas pela Coligação Federação Brasil da Esperança – Fé Brasil (PT/PcdoB/PV) resultou na proposição da AIJE, protocolada na 46ª Zona Eleitoral, com sede em Guadalupe.
A ação aponta prática de abuso de poder político e econômico, uso indevido dos meios de comunicação e da máquina pública, além de possível captação ilícita de sufrágio. Entre os elementos apresentados estão:
- Concessão de bolsas de estudo em período vedado;
- Perfuração de poços artesianos e entrega de materiais de construção;
- Promoção de eventos com distribuição gratuita de comida e bebida;
- Utilização de servidores em atividades eleitorais;
- Crescimento atípico do eleitorado, com percentual superior a 93% da população local, levantando suspeitas de transferências irregulares de títulos.
A audiência de instrução foi realizada em 29 de abril de 2025, ocasião em que testemunhas foram ouvidas pelo juiz eleitoral Breno Borges Brasil. O pedido de adiamento feito pela defesa do prefeito foi indeferido, com o magistrado considerando que a audiência já havia sido designada com antecedência e deveria ocorrer conforme previsto. Com a fase de instrução concluída, o processo segue para manifestação do Ministério Público Eleitoral e posterior julgamento de mérito.
Cassação de diploma de vereadora eleita
Paralelamente à tramitação da AIJE contra o prefeito e o vice, o TRE-PI julgou procedente o Recurso Contra Expedição de Diploma (RCED) interposto contra a vereadora eleita Ulga Freitas da Cunha. A ação, também movida pela Coligação Fé Brasil e pela Promotoria Eleitoral da 46ª Zona, apontou a inelegibilidade da candidata em razão de condenação por ato de improbidade administrativa com trânsito em julgado desde 26 de julho de 2021, imposta pelo Tribunal de Justiça do Piauí.

A sentença originária suspendeu os direitos políticos da vereadora por cinco anos, tornando-a inelegível até julho de 2026, nos termos da Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar nº 135/2010). O relator do processo no TRE-PI votou pela cassação do diploma com base no entendimento consolidado da Corte Eleitoral, e seu voto foi acompanhado por unanimidade pelos demais membros do colegiado. A sessão ocorreu por videoconferência e foi transmitida ao vivo no canal do Tribunal no YouTube.
Resumo pós-eleição: instabilidade e expectativa por decisões finais
Os desdobramentos das eleições de 2024 consolidam o padrão de judicialização do processo eleitoral em Marcos Parente, onde, historicamente, disputas majoritárias e proporcionais frequentemente acabam sendo decididas nas instâncias da Justiça Eleitoral.
Atualmente, a vereadora Ulga Freitas já teve seu diploma cassado, e a Câmara Municipal deverá aguardar os trâmites legais para o devido preenchimento da vaga. No caso da chapa majoritária, o processo segue em curso, sem decisão definitiva, mantendo a administração municipal sob avaliação do Judiciário.
A expectativa agora recai sobre a sentença da AIJE que pode, caso julgada procedente, resultar na cassação dos diplomas do prefeito e do vice, e ainda na declaração de inelegibilidade por oito anos para ambos. Enquanto isso, a cidade permanece sob a condução da atual gestão, mas em clima de incerteza jurídica.