O que explica a alta de Covid-19 na Europa e o que isso representa para o Brasil

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Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta de que a Europa é novamente o epicentro da pandemia.

A pandemia de Covid-19 volta ao centro das preocupações na Europa. Alemanha, França, Dinamarca, Áustria e países do leste europeu apresentam índices crescentes no número de casos e de mortes pela doença. As infecções também avançam na Rússia, que divide-se entre a Europa e a Ásia.

No dia 4 de novembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) fez um alerta de que a Europa é novamente o epicentro da pandemia. De acordo com a OMS, países da Europa e Ásia Central apresentam diferentes níveis de implantação da vacinação. No comunicado, a organização diz que apenas 47% dos cidadãos da Europa e Ásia Central completaram o esquema vacinal. Enquanto oito países já ultrapassaram a cobertura de 70%, em dois países a taxa permanece abaixo de 10%.

Segundo a OMS, nos locais onde a adesão à vacina é baixa – em países bálticos, da Europa Central e Oriental e nos Balcãs – as taxas de hospitalização são altas.

“Devemos mudar nossas táticas de reação aos surtos de Covid-19 para evitar que eles aconteçam em primeiro lugar”, disse Hans Henri Kluge, diretor regional da OMS na Europa em uma declaração à imprensa.

Especialistas consultados pela CNN ajudam a explicar o cenário epidemiológico na Europa e fazem um alerta sobre como a pandemia poderá impactar o Brasil nos próximos meses.

People wear protective face masks as they walk in St. Mark’s Square after the last days of Venice Carnival were cancelled due to coronavirus, in Venice, Italy February 24, 2020. REUTERS/Manuel Silvestri

Aproximação do inverno

Com a proximidade do inverno, as temperaturas começam a cair na maior parte dos países de clima temperado, como os da Europa. Diferentemente do Brasil, lá a estação mais fria do ano costuma ser caracterizada por frio intenso, com tempo fechado e presença de neve.

A condição climática favorece mudanças no comportamento, fazendo com que as pessoas passem mais tempo reunidas em ambientes fechados em busca de conforto e aquecimento.

Nações do Leste europeu como Eslovênia, Croácia, Geórgia, Eslováquia e Lituânia estão entre as com maiores índices de novos casos no continente. Outros países, como Reino Unido, Alemanha, França e Rússia também apresentam números crescentes da doença.

Na quinta-feira (11), a Alemanha registrou mais um recorde diário de casos, com mais de 50 mil novas infecções em 24 horas. A média móvel de casos no país está em torno de 31 mil, pouco abaixo do Reino Unido, que está em 33 mil. Já a Rússia tem apresentado uma média de 40 mil novos casos diários na última semana.

“No período do inverno, as pessoas tendem a se aglomerar em locais fechados, associado a isso, os países flexibilizaram independente da taxa de cobertura vacinal”, disse Júlio Croda, infectologista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

Vale destacar que o que muda é o comportamento das pessoas, não do vírus em si. De acordo com os virologistas, o SARS-CoV-2, vírus causador da Covid-19, apresenta capacidades de transmissão semelhantes em ambientes frios e quentes. Para reforçar a hipótese, os especialistas utilizam como exemplo o grande número de casos registrados no Brasil entre dezembro de 2020 e março de 2021, período do verão no hemisfério Sul.

Lacunas na vacinação

Para o infectologista Júlio Croda, o aumento dos casos de hospitalização e de óbitos também reflete lacunas nos programas de vacinação contra a Covid-19.

“A vacina protege as infecções sintomáticas e previne 50% da transmissão. A vacina tem o seu papel e impacto na redução da transmissão em gerar a imunidade coletiva”, afirma.

“Se você tem uma taxa de vacinação que é de 50% a 70% ainda não é uma taxa ideal, não há uma imunidade coletiva, o vírus pode continuar circulando. Se essa taxa de imunização não for elevada, vai ter aumento de hospitalização e de óbitos”, completa.

O pesquisador da Fiocruz avalia que há dificuldade de adesão à vacina na Europa, que não sofre com a falta de doses, mas enfrenta a resistência do movimento antivacina.

“Tem o negacionismo, o movimento antivacina muito forte e a falta dos governos em impor medidas restritivas como o passaporte vacinal, e estratégias de convencimento e de comunicação para conscientizar as pessoas de que é importante se vacinar. A vacina não é um ato individual, é um ato coletivo, se todo mundo se vacinar teremos menos circulação do vírus”, destaca.

Embora o movimento antivacina no Brasil não tenha o mesmo impacto dos países da Europa e dos Estados Unidos, o pesquisador da Fiocruz reforça que o contexto global deve servir de alerta para o país.

“O Brasil deve se preocupar sim. Ano passado, neste mesmo momento, tínhamos um número reduzido de casos. Flexibilizamos, houveram aglomerações associadas às festas de fim de ano e houve um aumento de casos no país com o surgimento da variante Gama”, pontua.

Alerta para o Brasil

Para os especialistas, o avanço na vacinação na Europa levou à flexibilização precoce de medidas de restrição, incluindo a retirada da obrigatoriedade do uso de máscaras.

“Esses países flexibilizaram o uso de máscaras, algo que o Brasil está querendo fazer sem ter condições ainda, sem ter cobertura vacinal adequada para a segunda dose. Os países que estão, de alguma forma, com os piores indicadores são aqueles que têm menor cobertura vacinal na Europa”, afirmou Croda.

Para o pesquisador, o impacto neste ano tende a ser menor, devido ao avanço da vacinação. No entanto, um aumento de hospitalizações e de óbitos pode acontecer principalmente em estados que apresentam baixos índices de cobertura vacinal completa (duas doses ou dose única da Janssen), como Roraima (28%), Amapá (34%) e Pará (39%).

Segundo Croda, a retomada de atividades e o convívio social com segurança depende da imunização completa e da manutenção do uso de máscaras.

“Garantir que está totalmente imunizado reduz a transmissão. O grupo apto para receber a terceira dose, deve realizar isso o mais breve possível para garantir mais proteção. Mante o uso de máscaras e evitar aglomerações é fundamental, são medidas que diminuem a transmissão”, conclui.

O pesquisador José Eduardo Levi, da Universidade de São Paulo (USP), destaca que a necessidade de ampliação na testagem para a Covid-19 no Brasil. “É importante investir fortemente em vigilância como medida de saúde pública. A testagem ainda não é algo fácil e disseminado no Brasil, para entrar nas escolas ou no ambiente de trabalho, por exemplo”, disse.

O virologista enfatiza que o monitoramento de variantes do novo coronavírus deve ser intensificado, especialmente com o aumento de casos na Europa. Segundo ele, o surgimento de uma nova linhagem, com maior potencial de transmissibilidade, como a variante Delta, pode levar a novas ondas de casos e de hospitalizações.

“Nesse momento, não há uma variante que justifique esse aumento importante de casos na Europa. Continua sendo a mesma Delta. Não acho que haja uma justificativa para o fechamento de fronteiras, desde que não haja novas variantes lá, mas a vigilância contínua se faz essencial”, conclui.

Lucas Rochada CNN

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