Você provavelmente já deve ter falado ou ouvido alguém falar que está mentalmente exausto. Mas você sabe realmente o que isso significa? Sabe quais são os sintomas que vêm acompanhados desse quadro?
A primeira coisa a se esclarecer é que a exaustão mental não é uma doença, mas um estado marcado por uma intensa sensação de estafa psíquica e até física, na qual sentimos que nossa capacidade de planejar ou tomar decisões está prejudicada, não dispomos de energia para qualquer tipo de atividade e não conseguimos reagir de maneira adequada aos estressores do ambiente.
A exaustão mental também é considerada pela literatura como a primeira etapa e o fator central da síndrome de burnout, no entanto, não é desencadeada apenas por questões ligadas ao trabalho.
O principal fator de risco para exaustão mental é o desalinho entre as demandas do dia a dia e o equilíbrio emocional, que pode ocorrer da exposição ao estresse crônico, incertezas, instabilidade familiar, entre outros.
Todos nós podemos enfrentar um quadro do tipo e é fundamental que estejamos sempre atentos aos sinais. A seguir, três especialistas listam nove deles.
Impaciência e irritabilidade
Quando estamos mentalmente exaustos, deixamos de ponderar de maneira adequada. Nossa capacidade de racionalizar, analisar e planejar fica prejudicada e nosso cérebro tende a responder aos estímulos externos de maneira mais impulsiva.
Além disso, nos sentimos muito cobrados e podemos ficar irritados com situações que geralmente não nos irritavam antes. Sendo assim, impaciência e irritabilidade são características típicas de quadros de exaustão emocional.
Dificuldade de concentração
A exaustão mental lentifica nossa capacidade cognitiva e comportamental, gerando prejuízo na nossa capacidade de manter o foco em algum estímulo. Com essa perda de concentração, tendemos a parecer mais distraídos, nos esquecemos de detalhes do dia a dia e temos mais dificuldade de manter a agilidade e a concentração.
Insônia
Você já se sentiu tão cansado que não conseguiu dormir? Parece uma contradição, mas não é. Quando estamos vivendo períodos de estresse, nosso cérebro não consegue desligar, fica planejando o dia seguinte e antevendo os problemas. A insônia à noite e a sonolência durante o dia são sintomas típicos de alguém com estafa mental.
Desânimo, tristeza, angústia
Quando nosso cérebro está sobrecarregado, algumas regiões podem reduzir seu funcionamento, como o córtex pré-frontal (a parte do cérebro na altura da testa). Quando essa região fica mais desligada, pode causar sintomas de tristeza e desânimo. A angústia pode ocorrer como uma resposta do organismo ao sentimento de impotência, de não ter forças para fazer o que precisa ser feito. Às vezes podemos até sentir medo sem conseguir identificar o porquê.
Ansiedade
Na estafa mental, regiões cerebrais profundas (no centro do cérebro) ficam mais agitadas. Essas regiões, chamadas de diencéfalo, são responsáveis por sensações mais primitivas como raiva, medo e dor. A ansiedade é um mecanismo de defesa a situações decorrentes do medo do que está por vir, gerando antecipação de reações da mente e do corpo. Quando estamos sobrecarregados, é normal nos sentirmos mais ansiosos e percebermos o mundo de uma maneira mais catastrófica
Procrastinação
A procrastinação na exaustão mental nos imobiliza, perdemos a motivação, vamos adiando nossas atividades, deixando para outro dia. Parece até que as coisas ficam mais difíceis e a vontade de resolver desaparece. A capacidade de executar tarefas fica bem abaixo do normal, de modo que procrastinar vira uma constante.
Alterações de apetite
Quando estamos estafados, tendemos a comer mais, beber mais e adotar outros comportamentos impulsivos. Esses impulsos tentam aumentar os níveis cerebrais de uma substancia chamada dopamina, responsável dentre outras coisas, pela nossa sensação de bem-estar. No entanto, há quem perca o apetite decorrente do desânimo e cansaço.
Perda da libido
Em quadros de estafa mental, o cérebro entra numa espécie de “modo avião” para economizar energia, com isso funções como a libido e o interesse em atividades da rotina ficam reduzidos. Além da falta de desejo sexual em si, a libido pode ser afetada pela falta de ânimo e pela ausência da da força pulsional, isto é, força que impulsiona o organismo para determinado objetivo.
Sintomas físicos
No quadro exaustão mental, podem ocorrer sintomas físicos como: dores musculares por todo o corpo, palpitações cardíacas, problemas estomacais, gripes e resfriados constantes causados pela baixa resistência imunológica, dores de cabeça, falta de ar, sensação de peso no pescoço, alterações dermatológicas como perda de cabelos.
Veja dicas para prevenir e tratar a exaustão mental:
Tenha um hobby: isso garante a ativação de áreas cerebrais que serão fortalecidas e protegerão contra cenários de exaustão. Ter um hobby não é só um passatempo, mas uma maneira eficiente de fazer ginástica para o cérebro.
Coloque regras: estabeleça limites de tempo e regras em sua rotina. Não avance o horário de dormir e não trabalhe durante o almoço. O equilíbrio entre trabalho e uma vida fora dele é fundamental, principalmente em épocas de home office e trabalho híbrido.
Foque naquilo em que você é bom: aprenda novas habilidades, mas afirme para você mesmo suas qualidades. Invista em seu talento e permita se desenvolver naquilo que você faz bem.
Entenda seu modelo mental: observe como você lida com as questões emocionais e como pode criar gatilhos de motivação e superação de adversidades. Se aproxime de quem faz bem a você: mantenha por perto pessoas que agregam e se afaste daquelas que fazem mal a você.
Pratique atividade física: escolha uma adequada a sua condição e que você goste.
Utilize técnicas de relaxamento: meditação, mindfulness e técnicas de respiração trazem mais leveza.
Procure ajuda especializada: psicólogos e profissionais podem ajudá-lo a identificar o motivo da exaustão mental e indicar o tratamento mais adequado.
Fonte: Pedro Shiozawa, médico psiquiatra, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, co-fundador da Jungle, startup de saúde mental voltada para o ambiente organizacional, e um dos autores do livro “Desvendando o Burn-out: Uma Análise Interdisciplinar da Síndrome do esgotamento profissional”; Cleyson Monteiro, psicólogo e professor do curso de psicologia do Uninassau (Centro Universitário Mauricio de Nassau) campus Paulista, em Pernambuco; Marina Greghi Sticca, docente da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto, do Departamento de Psicologia da Universidade de São Paulo.